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A tradução portuguesa da biografia de Warren Buffett, o maior investidor do mundo, já chegou às livrarias. O livro de Alice Schroeder, editado em Portugal pela Actual, foi traduzido pela Fabrico Próprio.
O jogador de râguebi era eu. Eu que nunca gostei de râguebi, esse jogo de brutos. Nessa altura, lá pelo meio dos anos 80, eu era bruto – em sentido figurado, claro - mas não sabia. Hoje, provavelmente, já não sou tão bruto. E se não sou, devo-o a ele. Ele era aquele professor que no primeiro dia de aulas do 10º C entrou na sala e disse que estávamos todos passados. Ele era aquele professor que se vestia de maneira diferente, falava de maneira diferente, pensava de maneira diferente e agia de maneira diferente. O único Professor que tive. Ele que nem sequer era professor “a sério” - embora fosse mais sério como professor do que todos os outros professores que conheci -, era jornalista. Mas um excelente jornalista só pode ser um excelente professor.
O Érre da Ésse não marcava faltas. Não me lembro de ter faltado a uma única aula de jornalismo nos dois anos em que o Érre da Ésse foi o professor da disciplina na Dona Maria II. Com o Érre da Ésse aprendi a gostar de cinema, teatro, pintura e demais manifestações artísticas. Aprendi a gostar da vida. Acabei por trabalhar como jornalista.
No 11º ano, fizemos o jornal da escola. Só fizemos um número, o segundo ficou a meio. O Érre da Ésse olhou para a “criatura”, passou-lhe os olhos e foi directo ao assunto. “Está uma merda”. E estava.
Desse grupo de pessoas que conseguiram fazer o único número do “Utópico” saíram, pelo menos, quatro jornalistas. Daquela turma saiu, seguramente, gente muito mais gente que antes de ter conhecido o Érre da Ésse, mesmo que, eventualmente, tenha levado com um apagador na cabeça por estar a falar durante a aula.
Agora, o Érre da Ésse morreu. Quer dizer, não morreu bem, porque certas pessoas nunca morrem totalmente.
Sejam realistas, exijam o impossível. Foi o que ele disse na última aula, como bom soixante-huitard que era. O Érre da Ésse tinha barbas e óculos redondos. Nos últimos 20 anos não o vi assim muitas vezes. A última foi perto da redacção do “Correio da Manhã”. A ironia é que acabou por ser numa breve das últimas do “Correio da Manhã” que soube da sua morte.
Que a sua alma inquieta continue à solta por aí.
Para Rodrigues da Silva (1939-2009)